23 abril, 2008

Espírito Maligno

Brincadeira. Uma atividade geralmente praticada por crianças – pequenos seres que não se preocupam com nada que não seja para divertimento próprio. “Criança não mente”, diz o ditado que, na verdade, tenta explicar que toda criança sofre da insensível doença chamada “sinceridade”.
Na verdade, porém, não é que toda criança seja implacável e cruel a ponto de, até mesmo, ofender as pessoas. O que ocorre é que as crianças sofrem de uma outra doença, chamada egoísmo. Para se divertir, não se preocupam se vão machucar o amiguinho da escola, nem se vai chatear a titia gorda da família.
Mas vou deixar os pequenos pestinhas (ops, detalhes) de lado e falar sobre o que estou tentando explicar: a brincadeira. Basicamente, toda brincadeira, seja ela piadas ou jogar bola, é cruel. No caso das piadas é fácil explicar, pois para que todos riam, alguém ou algo é motivo de sarro. Já no caso do jogo de bola, bem, não tem como descrever quando se é o último a ser escolhido, ou o “cara” que ninguém toca a bola.
Até aqui parece fácil, pois da impressão de que somente as crianças praticam este ato hostil chamado de brincadeira. Mas, pelo contrário, a brincadeira é muito mais praticada pelos hipócritas dos adultos – crianças crescidas que aprenderam a ser gentis e sensíveis, mas que esquecem de tudo quando não estão conversando com o chefe ou a esposa.
Mais inteligentes, mais experientes e mais cruéis, este ser abominável chamado adulto não perde a oportunidade de tirar um sarrinho básico dos colegas de trabalho. Os adultos só hesitam em tirar sarro daquele que conta tudo pro chefe e tem credibilidade com o patrão, o puxa-saco - aquela criança mimada e “cagüeta” que contava tudo para a professora ou para sua mãe.
Cruel, abominável, experiente e esperto o suficiente para me divertir às custas dos outros, magoei a pessoa que eu mais amo. E o que eu não tinha certeza acabou por se concretizar. Nem mesmo o amor é capaz de neutralizar este espírito maligno que se desenvolve mais e mais com o passar do tempo: o espírito de brincadeira. E ainda não sei porque reclamam dos chatos, porém sensatos, dos mau-humorados.

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